quinta-feira, abril 14, 2005

SOBRE VÍCIOS E VIRTUDES

La vem o Christian com as maluquices dele. Que que ele vai inventar agora de falar sobre essa parada que já foi até titulo de musica? (de quem mesmo? esqueci, acho que é do Charlie Brown Jr. - whatever) Bom, como vocês, meus leitores assíduos sabem, eu costumo pensar em coisas que todo mundo pensa, só que de maneira diferente. Ok ok, eu também penso em coisas malucas que ninguem pensa, mas isso é só as vezes, hehehe.

Vamos começar então consultando o oráculo máximo de nosso vasto e belo vocabulário: Dicionário Houaiss. Quem sabe assim fica parecendo que esse texto tem algum valor.

Vício
? substantivo masculino
1 defeito ou imperfeição grave de uma pessoa ou coisa

Virtude
? substantivo feminino
1 qualidade do que se conforma com o considerado correto e desejável (p.ex., do ponto de vista da moral, da religião, do comportamento social, do dever, da eficácia etc.)
Ex.: vício e v., o perpétuo embate
1.1 uma qualidade moral particular

Resumindo então o que foi colocado tão bunitamente pelo nosso amiguinho erudito, o tio Houaiss. Como estou falando de pessoas (ah é, tinha esquecido de avisar): vício é defeito, virtude é qualidade. Sobre isso não há o que se discutir; o que quero falar aqui é sobre a importância dessas duas coisinhas no que diz respeito a como as pessoas julgam outras.

Basicamente, acredito que vicios e virtudes são super-estimados (ou sub-estimados, você escolhe). Humildade, generosidade, simpatia, tolerância são todas virtudes muito bonitas. Arrogancia, hipocresia, falsidade são todos vicios detestados. É? Num sei, acho que é relativo.

Por exemplo, é comum taxarmos alguém de egoista quando esse alguem não nos empresta algo. Analise bem essa situação e veja quem está realmente sendo egoista. Em algum momento você parou pra pensar nos motivos que levaram ele a agir dessa maneira? Não, você só pensou em você mesmo que vai ficar sem o que você pediu a ele; egoísta é você.

De repente ele teve uma vida de privações e o subconsciente dele em auto-defesa criou um mecanismo de racionamento e possessividade. É justo taxá-lo de egoista? Analogamente você considera outra pessoa bem generosa por que ela sempre está disposta a te emprestar dinheiro ou coisas quando você pede. De repente ele não é generoso merda nenhuma, só empresta por que está sobrando e não vai fazer falta. Quando não faz falta, não é generosidade, é conveniência, pensem nisso. Ele pode estar apenas emprestando ou dando simplesmente pra "ganhar" o titulo de generoso que lhe é prontamente dado sem nenhum questionamento.

Outra coisa. Vicios e virtudes são relativos como as pessoas são relativas. Há pessoas que simplesmente execram preguiça enquanto outras a consideram uma virtude. Jorge Amado é bom exemplo de um célebre preguiçoso. Quem se atreve a atribuir defeito a carecterística marcha-lenta de nosso querido escritor?

Agora vamos falar de mérito. E novamente vamos recorrer ao nosso amiguinho Houaiss. Segundo ele, é o mesmo que merecimento. Muito bem, perfeito. Se uma pessoa tem mérito sobre algo, ela o mereceu. E aquela medalha "Honra ao Mérito"? Já ouviram falar? Mó premio de consolação da porra né? Na verdade, todas as medalhas são (ou pelo menos deveriam ser) de Honra ao Mérito, por que premiamos o esforço do atleta para se tornar o melhor do mundo e não o simples fato de ele o ter feito, tanto que fazemos testes de dopping pra impedir que as pessoas cheguem lá com vantagens anti-éticas.

(now playing: Coldplay - Trouble)

Mérito em obtenção de metas como esportes, ciência, artes, etc é geralmente simples de se medir. Ninguem se torna um doutor em fisica sem estudar pra caralho, ninguem ganha medalha de ouro em natação sem treinar muuuuuuuuito e ninguem se torna um mestre em um instrumento musical se não passar horas e horas e horas praticando até a exaustão.

Mas como associar mérito a vicios e virtudes? Complicado né? Como saber se uma pessoa tem mérito em ser chamado de arrogante? Ela realmente merece isso? E o mérito de ser chamado de uma pessoa boa e honesta? No meu ver, o mérito nesse caso tem a ver com consciência, pois vicios e virtudes são o que formam nossa personalidade. Nossa personalidade é formada pelas decisões que tomamos frente aos desafios que nos são impostos pela sociedade. Algumas dessas decisões são inconscientes e mecânicas, outras são resultado de reflexão e portanto, de certa forma, conscientes.

Se uma pessoa tem a personalidade basicamente formada por atos mecanicos, como acontece muito, ou seja, pessoas que só fazem o que a sociedade dita, sem críticas e sem ao menos pensar se está fazendo certo ou errado, bem ou mal, não podemos atribuir muito mérito aos seus vícios e nem as suas virtudes. Como assim? Bom, muito se fala, quando, por exemplo, um menino chega na escola com uma arma e mata 15 pessoas, que tudo é culpa da sociedade, da televisão, dos joguinhos de computador, etc. Isso tudo moldou sua personalidade, certo? Quanto mais mecanicamente ele absorveu isso tudo, mais igual ao joguinho de computador ele vai ser. Os vicios ira, cólera, ignorância entre outros não são bem CULPA dele né? Ele não tem mérito em criá-los. Mas aonde já se viu falar dessas coisas em relação a virtudes?

Um homem bom, honesto, trabalhador e generoso. Todos vão amá-lo e venerá-lo. Mas ele tem mérito nessas virtudes? Ele algum dia refletiu e decidiu ser assim? Ou isso tudo foi simplesmente resultado de sua criação e de uma certa ausência de crítica por sua parte em relação ao mundo, e como seus pais, amigos e parentes eram todas pessoas do bem, ele acabou virando um também. Talvez por algum mérito próprio, ele tenha colecionado mais virtudes que essas pessoas, que possuiam, talvez, apenas uma ou outra, mas não todas ao mesmo tempo como ele.Ele teria mérito sobre o conjunto, mas não sobre as partes.

(now playing: Coldplay - Everything's Not Lost)

O que estou querendo dizer é que, vicios e virtudes tem exatamente a mesma raiz. Onde não há consciência, não pode haver mérito. Se uma pessoa é generosa mas nunca realmente pensou a respeito, faz as coisas mecanicamente e quase inconscientemente, ela não exatamente alcançou nenhum estado superior de evolução. Isso é analogo a vicios como egoismo e possessividade.

Não estou tirando do generoso, do bom, do honesto e do sincero o que é de BOM neles. E também não estou eximindo de culpa (tirando o MAL de) uma pessoa estúpida, arrogante e hipócrita. Não estou discutindo bem e mal, acho que isso já foi discutido demais.

Mas, por exemplo, quem é dignatário de mais valor? O homem do meu exemplo, que é bom e generoso por que nasceu em uma familia de pessoas boas e absorveu mecanicamente esses valores, ou alguem que nasceu em meio a uma familia desunida, regada a tristezas, ódio e falsidade, mas por MÉRITO meditou, refletiu, estudou, se regulou, atingiu a iluminação e se tornou uma pessoa boa mesmo com todos os antencedentes de angustia e privações de amor que habitam o seu coração?

(now playing: Coldplay - Clocks)

Bom mesmo é aquele que conhece ambos os lados da moeda, sabe das vantagens do "lado de lá" mas decidiu e se esforça para ser bom simplesmente por que é a coisa certa a fazer. Imagina se o Darth Vader não tivesse ido pro lado negro? hehehehe

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caí aqui por acaso.
Concordo com seu raciocínio sobre a ligação entre mérito e consciência, ou mesmo opção de fato, para se valorizar as virtudes humanas. Mas eu lembro daquele lance da menina certinha que gosta do cara louco, sabe? Ela é certinha pq é, mas é atraída pelo que não é...ou pelo que gostaria de ser. As vezes a pessoa é por hábito, mas não é de fato, e acredito que alguém assim quebra fácil, fácil. A própria vida é o único bem que qualquer ser humano tem de fato, não utilizar o livre arbítrio é a maior cagada que alguém pode fazer. Minha opinião, obvius.
Prazer, Patrícia.
http://www.canonnball.zip.net

9:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vixi...obvious.
Não sei como achei. Não lembro.
Att,

4:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E aquele que dá, empresta, apenas por carência. Porque quer ser aceito.
Já pensou nisto?

5:23 da tarde  

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