terça-feira, janeiro 08, 2002

ENSAIO SOBRE A EXISTÊNCIA


DEFINIÇÕES (ou tentativas frustradas de)
Se alguém te pedisse pra definir existência, é mole né? Algo que existe, porque é palpável ou visível ou pelo menos sensível/audível, existe, a própria palavra já diz o que significa, não precisa filosofar muito. Agora, se eu te pedisse pra definir VIDA, aí é foda! Essa num tem jeito. O que é vida? De uma coisa eu tenho certeza a respeito dela, eu a tenho. E mais nada, só sei isso. Um cão tem? Uma ameba tem? Um vírus tem? Se você respondeu não a qualquer uma dessas perguntas então você confundiu definição de vida com consciência, (alma, como quiser), ou não.
É algo muito complicado de definir. Acho que pelo fato de ser algo tão enorme e incompreensível nossa linguagem mortal e finita não tem capacidade pra defini-la (falei bonito né?). Outra coisa todos nós sabemos. Pedras não tem vida, já plantas têm. Esquisito, do meu ponto de vista essas duas coisas parecem igualmente inanimadas e sem vida apesar de a árvore crescer e ser coloridinha enquanto a pedra é imutável, mas a mente humana é limitada e por isso escrevo esse texto.
Pelo menos acho que consegui deixar algo claro, existência e vida se completam mas não mutuamente. Explicando, algo não pode viver sem existir (você por exemplo), mas pode facilmente existir sem viver (um grão de areia).


CONSCIÊNCIA (ou alma, ou whatever)
Bom, essa é simples de definir e difícil de entender. Pra mim consciência é o que nos separa do resto de todos os seres vivos (já definimos vida, certo?). Pô, uma ameba não tem consciência, ela não sabe que é uma ameba, pra falar a verdade ela não sabe NADA, ela não SABE, não pensa. Mas aí vem a dúvida, e seres com cérebros mais avançados, tipo os macacos, golfinhos e cachorros? Aí eu sei lá. Talvez eu diria que eles tem uma semiconsciência, pois são capazes de tomar decisões. Eles não tem apenas instinto como amebas, micróbios e lagartixas. Ficam tristes, com raiva, felizes. Eles sentem.
Mas com certeza tem algo sobre a consciência humana que eu gosto de chamar de alma que é a noção de existência. Você sabe que existe, você sabe seu papel. Você sabe o que vai acontecer com você, sabe que nasceu, sabe que vai crescer, se reproduzir (ou não) e sabe que um dia vai morrer como qualquer um. Aí que está, a morte. O ser humano é o único animal ciente da sua mortalidade.


VIDA E MORTE (nossa passagem pela Terra)
Você já parou pra pensar na morte? Se não, então desculpe porque é algo horrível pra se pensar e eu acabei de botar essa porcaria na sua cabeça.
Bom, todos nós, isso eu posso afirmar, TODOS nós vamos morrer um dia. Você não acha isso meio injusto? Eu não pedi pra nascer, ou pra ter consciência da minha morte, e da morte das pessoas que eu amo. Eu não quero passar por isso, perder amigos, parentes e de repente um dia passar a não mais existir.
Se você é de alguma religião, ou tem fé na vida pós-morte então não há problema, você vai viver uma vida serena e nunca pensar na morte e levar a passagem de seus entes queridos naturalmente, mas como tudo mais injusto, existem pessoas sem fé, como eu. Eu não consigo crer em vida pós-morte, porque não vejo lógica nisso (como se vida e morte tivesse alguma lógica). Sou muito racional e gosto das coisas muito bem explicadas (disparado o meu pior defeito). Pense bem, vida eterna, e só após a morte? Então o 1o ser humano, está até hoje em outro plano? Cacete, que saco, o cara tá lá a 10mil anos, eu também não quero isso, enjoa, nada é pra sempre. Essa é a falha na teoria da existência. Tudo que é, só é enquanto é! Nada dura – ou vive – para sempre. Morre, explode, apodrece, se transforma, qualquer coisa assim, mas deixa de existir. No caso de uma ameba, foda-se, ela não pensa, não vive, não ama, mas morre, essa é a única característica comum a todo ser vivo.
Continuando, eu nasci nessa época, vou morrer daqui a sei lá, 60 anos. E depois? O mundo vai continuar existindo por, sei lá, 5 bilhões de anos. E depois o Universo entra em colapso e deixa de existir e tudo começa de novo. Eu não vou estar lá pra presenciar nada disso, e nem quero, imagina só, viver 5 bilhões de anos, que saco!
O que é injusto é justamente nossa capacidade de ser ciente disso tudo, pra falar a verdade, tem vezes que eu gostaria de ser idiota. Idiotas não filosofam. Ninguém me deu a escolha.


JUSTIÇA DA EXISTÊNCIA (ou no caso, a falta dela)
Ninguém pede pra nascer certo? Mas tem gente que pede pra morrer, ou seja, mais injustiça. A pessoa – em teoria – só tem uma passagem pelo nosso lindo planeta azul. E logo nessa chance ela nasce horrível, ou com paralisia cerebral. Putz, não tem nada mais escroto do que isso. Pessoas nascem lindas, perfeitas, milionárias, felizes durante toda a vida, e nunca nem param pra pensar nisso. Outras nascem pra sofrer e vivem muito, morrem velhos e tristes. É foda! Eu não aturo isso, não concordo, está errado!
Mas eu não posso negar que tem certas coisas que me fazem crer em algo muito maior do que a existência de nós, seres humanos. A beleza da natureza, montanhas com neve no topo, rios com águas cristalinas, praias paradisíacas, mulheres lindas – não tem nada mais lindo do que um rosto de uma mulher gata, ainda mais quando ela sorri. Essas coisas transcendem a vida, pois sempre vão existir e aí eu não consigo ser racional, não dá pra ser tão cético e achar que isso tudo foi formado pela obra do acaso...
O amor. Você ama, se sente preenchido, perfeito, parte de algo. O melhor sentimento do mundo. Contrapartida, amor não correspondido. Você fica fraco, frágil, triste, vazio, quer morrer. E por quê? Por quê você quer morrer? Por que é a única coisa que é certa nesse mundo, o resto todo é só uma onda de acasos e circunstâncias que forma uma coisa que certas pessoas chamam de destino. O mundo não tem destino, e nem você. A sua coexistência com os outros 6 bilhões de habitantes da planetinha lindo pode mudar a cada minuto só dependendo de você e deles.
Você nunca pensa nisso? Existem 6 bilhões de pessoas no mundo. Caralho é gente pra cacete e você não vai conhecer nem 1 milionésimo disso e foda-se, a coexistência também é falha. A sua existência não importa pra eles, e a deles (exceto é óbvio sua própria sociedade: amigos, parentes e afins) não importa pra você.
Outra coisa, quem define que EU, o meu ego, o meu ser vai nascer nessa época e nesse corpo com essa cabecinha que só pensa merda o dia todo? Isso é esquisito, por que eu não nasci na Idade Média, por que eu não fui um dinossauro (ou de repente fui, sei lá).


REENCARNAÇÃO
Não tenho muito o que falar a respeito disso. Se existir, tá pra aparecer alguém que me mostre alguma vantagem em voltar a Terra não lembrando de nada e possivelmente no corpo de um ornitorrinco. Eu te garanto que eu, sou eu e ninguém mais, portanto não acredito.


SÓ PRA TERMINAR
Agora só algo pra ficar pensando. Imagina se toda essa injustiça que eu falei, não for tão injusta assim? Imagina se antes de você nascer, você tem a escolha. Você fica lá em cima no céu, vendo a Terra e tudo que acontece nela dentro de uma redoma de vidro. Aí você escolhe se quer ir lá ou não. Se você não for, você não vai existir, não vai ter vida, não vai ter forma, vai ser só uma consciência, vai ser só um ser inanimado que não serve pra nada. Mas você decide ir, portanto esquece de tudo o que era (ou não era). Mesmo sabendo que vai sofrer – pra caralho –,vai rir, vai amar, ser amado (ou não) e depois vai morrer e cabô. Será que é assim? Será que vale a pena? Se for assim, então tantas pessoas, inclusive eu fizeram essa escolha, é por que viver (e morrer) não é tão mal assim. 


P.S: Percebi algo enquanto escrevia esse texto, porque eu estava meio deprê. A consciência humana funciona melhor na miséria. Felicidade é o pior combustível pra ciência da existência. Se você está feliz, amando, se divertindo, bem no emprego, eu duvido que você pense nessas merdas que eu penso. Mas infelizmente eu penso, e tinha que passar pro papel.


“Hakuna Matata”
“Carpe diem”
“Viva todos os seus dias como se fosse o último, um dia desses vai ser mesmo.”

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