quinta-feira, janeiro 10, 2002

ENSAIO SOBRE A CONSCIÊNCIA E TODAS AS COISAS QUE A CONCERNEM

Se você já leu meu Ensaio sobre a existência, já sabe a definição de vida, existência e consciência, bem como as diferenças básicas entre eles.
Mesmo assim vamos rever aqui o que caracterizo como consciência. A frase do grande filósofo que diz “Penso, logo existo” condiz exatamente com a minha definição. Óbvio que pessoas com mentes fechadas logo dirão “batatas não pensam, logo não existem”. Não é bem assim. Vamos mudar um pouco a frase dele para “Penso, logo sei que existo”. Uma batata existe, assim como nós, mas ela não pensa, e apesar de ser um ser vivo ela não sabe que está viva, por tanto não tem consciência, e pra ela não faz a menor diferença estar viva, nunca ter existido ou acabar virando McFritas. Já nós, não, nós somos seres pensantes. Possuímos uma estrutura muito complexa chamada cérebro, que em 10 mil anos de evolução até hoje não entendemos direito. Então vamos lá:

O CÉREBRO
Ele fica dentro dessa coisa oval em cima do seu pescoço chamada crânio. Ele parece com geleia de morango. Não tem partes móveis e é composto por bilhões de neurônios, células muito complexas que geram o ‘pensamento’.
O cérebro é dividido em varias partes, sendo a mais importante, o Neo-Cortex, mais conhecido como massa cinzenta que é REALMENTE onde surgem as idéias e a nossa mente. Ninguém até hoje descobriu como as coisas acontecem lá dentro. O cérebro então é simplesmente o ‘lugar’ onde mora nosso ser, nossa vida, nossa consciência. Tudo que acontece dentro de sua cabeça são reações químicas que geram impulsos elétricos. Só o fato de você estar lendo esse texto já gera zilhões de impulsos que passam de neurônio pra neurônio em uma velocidade estúpida pra traduzir essa imagem em algo que faça sentido para você. Posso dizer sem medo, que a estrutura dele é infinitamente mais complexa do que a do universo. Se já soubéssemos sobre o que tem dentro da nossa cabeça, metade do que sabemos sobre o universo e as leis que o regem, estaríamos muito mais próximos da mente de Deus. Pra isso servem os limites da nossa ignorância. Filosofei demais... vamos voltar.
Acontece que o cérebro não é só isso. Ele não só capta informações e as processa. Ele também trabalha sozinho. Pode se dizer que o cérebro é o único autômato que existe. Ele CRIA. Do cérebro SURGEM idéias, pensamentos, maluquices e tudo mais. Ele portanto não pode ser caracterizado como um sistema (entrada – processamento – saída), pois ele processa sozinho sem necessidade de entrada e gera saída. Aí que entra a MENTE, a morada da consciência.

A MENTE HUMANA
Nossa cabeça é complicada não é? Vai dizer que as vezes você do nada não se encontra pensando nas coisas mais absurdas e estúpidas que você não quer pensar? Pois é, a mente humana é assim, não funciona como a gente quer. Por que você não é você, você é sua mente. Complicou? Deixa eu explicar melhor. Nós, providos de cabeças, braços, tronco e pernas nada mais somos do que um veículo para nosso cérebro, ele que manda em tudo, ele faz tudo funcionar. E você é único, em 6 bilhões de pessoas existentes no mundo, só você o vê da sua perspectiva, com seus olhos. Isso na minha opinião é a coisa mais incrível que existe. Essa complexidade e infinidade de consciências pra mim é o maior mistério do universo. De onde elas vêem? Será que existe um depósito? Isso são perguntas que serão discutidas ao longo do texto, vamos continuar.

O CONSCIENTE E O SUBCONSCIENTE
Desses a gente ouve falar até cansar né? Mas poucas pessoas sabem bem o que são e como funcionam. Psicoprofissionais (psicólogos, psicoterapeutas, psicanalistas e o diabo a quatro) os estudam incansavelmente desde que Freud passou pela Terra e até hoje discutem o assunto (sem muito sucesso).
Não sou psicólogo, não sou escritor, e muito menos filósofo. Mas a minha cabeça e os pensamentos que provém dela são propriedade minha, e eu simplesmente os passo para o papel, portanto você pode não gostar da definição a seguir, mas... nada posso fazer a respeito, seguinte:
A mente humana é dividida em duas partes básicas: consciente e subconsciente. Vamos dizer que consciente é o chefe do departamento (seu cérebro) e o subconsciente é um auxiliar de arquivo (aquele que guarda e organiza as coisas nos lugares devidos, ou não). Pois bem, o consciente e subconsciente tratam de armazenar pensamentos, idéias e emoções. Só que com uma diferença básica, você manda no chefe de departamento, você é o presidente da empresa, mas não tem controle NENHUM sobre o arquivista. Exemplo, você estuda para um prova, o consciente vai aos poucos guardando aquelas informações em lugares de fácil acesso, mas o desgraçado do arquivista sempre faz o favor de pegar outras coisas e colocar no lugar da matéria e/ou colocar o que você estudou na última gaveta do último armário. Aí você esquece e fica nervoso na hora da prova. Ficar nervoso, também é obra do arquivista, é ele quem joga no seu pensamento coisas que nada tem haver com a sua prova e o fazem esquecer a matéria e começar a pensar no seu futuro, na sua namorada e na sua conta bancária.
Se o chefe mandar para o arquivista coisas simples para guardar, ele as guarda e fica tudo bem. Você é feliz. Mas as vezes, o chefe dá algo para o consciente que ele não sabe onde por, e fica perdido por aí, e quando o chefe pede, o arquivista não sabendo onde está, entrega outra coisa e cria uma bagunça. Você fica estressado, nervoso, triste. Você já reparou que é IMPOSSÍVEL pensar em nada? Pois é, o idiota do arquivista não consegue ficar quieto.
Deixa eu tentar um pouco ser psicólogo forense, já vi muito filme e acho que sei mais ou menos do que estou falando. Essas coisas de serial-killer todos terem sido molestados na infância explica bem minha tese da bagunça do subconsciente. Quando se é criança, é tudo lindo, perfeito e não existem problemas no mundo. O arquivista (ainda em fase de treinamento) pega essas imagens horríveis (pai bêbado, mãe prostituta, espancamentos) e amarrota tudo numa gaveta e tranca ela com medo do chefe reclamar. Mas depois quando ele fica um profissional completo, mais ou menos na fase adulta (veja bem que isso nunca acontece, ele está sempre aprendendo, e o pior, ele é parente do dono – Deus -, portanto não pode ser demitido) ele vai ver o que é aquilo lá em cima trancado com papel saindo pelo ladrão. Novamente ele não entende e começa a entregar tudo ao seu chefe, que também não entende mas mesmo assim analisa aquilo e começa a fazer algumas mudanças no departamento para melhor acomodar essas novas informações e tudo na empresa (seu cérebro) começa a mudar, fugindo ao controle até do Presidente, e o cara fica maluco e começa a matar pessoas.
A maneira como o subconsciente trabalha é que diferencia cada um de nós. Uns tem arquivistas bem idiotas e preguiçosos, que não mostram muito serviço, são as pessoas normais e felizes com problemas do dia a dia que compõe 90% do mundo. Outros tem subconscientes metidos a besta que ficam se mostrando e dando coisas pro chefe que a maioria dos outros arquivistas joga fora só pra mostrar que é útil, são os filósofos de botequim (eu incluso), 9% do mundo, alguns felizes, outros nem tanto. E outros tem arquivistas realmente competentes, tão competentes, que nem ligam pra coisas triviais e só mostram pro chefe coisas incríveis e idéias novas; são os gênios, as pessoas iluminadas que vieram ao mundo para deixar sua marca e fazer a diferença, poucos deles são realmente felizes, 1% do mundo. Pois é, meu arquivista é chato e não me deixa em paz, e o que me fez começar a escrever essas asneiras foi a morte.

A MORTE
Um dia você para do nada e pensa. Um dia eu vou morrer, tudo vai acabar. Eu passei por isso e me desesperei. Por que? Eu explico, o meu arquivista é metido a besta, mas ele não queria saber de morte e atochava tudo numa gaveta no sótão sem pensar nas conseqüências. O que aconteceu? Um dia a gaveta entupiu, ele foi querer dar uma limpada e acabou deixando tudo cair, quando o chefe viu aquilo deu um esporro no arquivista (isso representaria eu desesperado) e falou que ele era um incompetente: “Seu idiota, você não pode simplesmente atochar as coisas assim na gaveta. Tem que organizar tudo! Deixa que eu cuido disso.”
E desde então o chefe vem cuidando de organizar os papéis no armário entitulado “Existência / Morte / Vida / Consciência”. E enquanto ele não pegar TODOS os papéis que o arquivista derrubou, não vai parar quieto. Quem perde com isso? Eu, que só penso nisso o dia todo. Mas um dia passa. I hope.
A morte não processa. Imagine que você criou um robô e o programou com um número X de reações. Qualquer coisa que gere nele uma reação Y, ele ou trava ou simplesmente não faz nada. É assim com a morte e nossa mente. Não temos resposta para nenhuma pergunta relacionada a ela. E o porquê disso é mais óbvio do que 1+1. Se a morte é o fim, a consciência desliga, se ela está desligada, não processa, se nunca ninguém processou morte e passou a informação, até hoje e para a ETERNIDADE nunca ninguém a entenderá.
É que nem dormir, você consegue lembrar o exato momento em que dormiu? Não. Por que? Por que seu cérebro desligou. Você sabe que está dormindo? Você pode simplesmente escolher, “quero acordar”? Claro que não. É assim que funciona. Um dia, eu vou morrer, e esse texto vai ficar, mas eu não vou saber disso. Aliás, quando eu morrer, todo mundo vai saber que eu morri, menos eu, porque não estarei mais lá. Estranho isso né?
Tem algo confortante a respeito da morte, pelo menos eu considero. Ela é inevitável. Você VAI morrer. Não é escolha. Não é que nem pular de uma cachoeira que todo mundo pulou, mas você foi cagão demais pra pular e depois se arrependeu. Você não se arrepende da morte, os outros se arrependem por você. Você morre e cabou. Pessoas vão no seu enterro e choram e você nem sabe disso. (aliás, você já parou pra pensar nisso? Pessoas choram em enterros pela razão mais egoísta possível. Elas não choram por que você morreu, choram sim pela saudade que vão sentir de você. Claro, tem exceções, tipo uma morte trágica, com um acidente horrível realmente é desesperador. Falo em termos gerais.)
Falei demais em morte. Vamos voltar a consciência em relação a tempo.


O TEMPO E A CONSCIÊNCIA
A consciência, assim como a existência tem inicio e fim. Só que não os mesmos. Como assim? Ué, vai me dizer que você lembra quando era um feto? Já era você, você já existia, só que não tinha consciência. Ou se tinha ela tá tão atochada no subconsciente que vão ter que terceirizar uma firma de remoção de entulho pra tirar tudo aquilo de lá, ou seja, dá na mesma. E quando você morrer, e sua consciência desligar, o seu corpo ainda vai estar lá, e você ainda vai morar na memória das pessoas. Vão perdurar textos, fotos e registros que você deixou aqui na Terra. O dia que essas coisas todas acabarem, aí sim, você acabou. Triste né? Pra fechar agora, vou viajar, como sempre faço no final dos meus textos.

DEPÓSITO DE “EUs”
Isso é o que tem me intrigado ultimamente. Será que existe um depósito infinito de pessoas e mentes em algum lugar? Será que esse depósito não é nada mais, nada menos que a mente de Deus, e que cada um de nós somos um pedacinho dela? Por que, por mais que você pense, não dá pra achar resposta para como você foi ser você. Pensa só que incrível. O universo tem bilhões de anos, a Terra também. A vida aqui no planetinha é velha pra cacete. Por que eu fui ser eu? Eu podia ter sido qualquer um. Podia ter nascido no meio da 2a Guerra, podia ter sido um protozoário, e pensando melhor, de repente eu até fui. Mas como ele não pensa eu não saberia. E eu odeio a teoria da reencarnação e da evolução espiritual.
Viajando mais ainda, se Deus é para todo o Universo eu podia ser um alien. Pois se eles existem também pensam e tem consciência. E de repente escrevem textos iguais a esse.


EPÍLOGO

Apesar da minha filosofia de botequim ser extensa e infinita, eu tenho uma vida terrestre igual a sua. E no momento, tenho que dar banho no cachorro.
Se alguém me desse a escolha, eu preferia dar banho em cachorros todos os dias da minha vida, a pensar do jeito que eu penso. Eu queria fazer parte dos 90%. Só que não funciona assim. Alguém, em algum lugar decidiu que o Christian Dechery ia ser assim. Isso não é aleatório, não pode ser. Então tenho que aceitar isso e agir como um ‘Christian Dechery’, e agradecer por não ser alguém em pior posição ou ter nascido no meio da 2a Guerra. Minha vida é minha propriedade mais valiosa, tenho que cuidar direitinho dela. Faça isso também.

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