domingo, novembro 07, 2004

NEO-ANTROPOCENTRISMO: APENDICE 2 - INDIVIDUALIDADE

O principal (apesar de estar em um apêndice, hehe) sustentáculo da teoria de NA é a individualidade do ser humano. Não confundir, por favor, indiviualidade com ego. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. NA não prega egoísmo.

Cada pessoa que nasce neste mundo, é um universo de individualidade. É um sem fim de mistérios comportamentais, emocionais e intelectuais. Por mais que o comportamento de grupo, na maioria das vezes faça com que muitas pessoas possuam comportamentos similares, e que até pensem como se fosse um único organismo, no fundo, cada um está vendo tudo aquilo com uma perspectiva 100% particular que não pode ser compartilhada por ninguém.

Isso é o que faz de nós, a coisa mais incrível que existe no mundo, e ao mesmo tempo a coisa mais inexplicável. Ninguém pode ver o mundo do jeito que você vê, ninguem vai pode interpretar esse texto da maneira que você interpreta. Quando yogues e mestres falam de iluminação, eles tentam, sem sucesso explicar do que se trata. Apenas pessoas que atingem tal estado podem saber se o atingiram ou não e entender, mas nunca transmitir, pois é uma experiência absolutamente individual, do ser humano com o seu mais íntimo EU.

Ego é o que destrói o indivíduo pois o força a fazer coisas idiotas na tentativa de se auto-afirmar. Ego é o que as pessoas pensam ser a substância da individualidade, quando na verdade é a substância da mediocridade de espírito: "não vou fazer isso, se não vão pensar isso e isso de mim", "faço tudo do jeito que eu quero, assim posso mostrar exatamente quem sou", "não vou ajudar esse idiota, ele que se vire, afinal eu sou foda, e ele não é" são típicas manifestações do ego, coisas que todos nós fazemos varias vezes por dia, até mesmo sem perceber. Tentamos empurrar ao mundo uma imagem idealizada daquilo que gostariamos de ser, sem saber exatamente quem somos. O ego é confuso mesmo. Em discussões desejamos sempre prevalecer e não levar o assunto a uma solução ideal para ambas as partes, o nosso ponto de vista é mais importante que a discussão. Isso é o ego, mas não é a individualidade.

A individualidade é aquilo que você realmente é, mesmo que você não o saiba. Talvez outras pessoas sejam capazes de enxergá-lo melhor do que você; e muitas vezes isso é recíproco. Ao entender e absorver a imensa diversidade de pessoas que existe no mundo, ao mergulhar em auto-conhecimento, conhecer o seu EU e abandonar o seu EGO, nascerá real respeito e entendimento pela humanidade.

O ser humano desrespeita o ser humano desde que existe, pois a partir do momento que viramos conscientes da nossa existencia e do nosso papel, ja aí surgiu o ego. As diferenças passaram a serem vistas como fatores separatistas ao invés de fatores evolutivos, de completude. As diferentes partes que formam um todo.

As diferenças de valores morais, hábitos, inteligência, culturas são manifestações puras de individualidade, mas estranhamente, são analisadas pelo ego. Por esse motivo, as pessoas começaram a se esbofetear para impor seus valores aos outros, acreditando serem melhores. As brigas começaram e nunca mais pararam. Estamos hoje em uma epidemia de egocentrismo. Seitas religiosas fanáticas, paises que impõem através da economia suas culturas em outros povos, nações imperialistas, globalização as avessas, preconceito racial, religioso.

E isso está tão impregnado na nossa cultura (quem sabe até em nossos genes) que não conseguimos olhar de outra maneira, quando vemos Bin Ladens e George Bushs da vida impondo sua arrogância e sua prepotência no mundo causando a morte de milhares de pessoas. Vamos pegar um exemplo menos óbvio: preconceito musical.

Vocês ja repararam como, cada pessoa que você conhece tem um gosto musical absolutamente singular? Naturalmente, varias coisas vão bater e existem pessoas com gostos muito parecidos, mas nunca idênticos. Isso acontece por varios motivos, o "gosto" é algo que não dá pra definir, e é o principal. Fora isso ainda vem a origem cultural, a criação, as influências e o nivel consciente da pessoa em relação a arte e ciência da musica. Uma pessoa que fez faculdade de musica dificilmente vai ter um gosto musical parecido com alguem que nasceu e viveu no morro e nunca sequer se deu o trabalho de estudar musica por 1 minuto. Mas nessa simples comparação mora um excelente exemplo do que estou querendo demonstrar aqui.

Digamos, por exemplo, o funk. O funk é uma musica polemica, nasceu no morro, e faz sucesso nas escalas mais baixas da sociedade. Até ganhou alguma projeção na classe média, mas nada demais, puro modismo. Quem entende um mínimo de música, não considera funk como música, ou expressão musical, por causa do nível de complexidade extremamente baixo das harmonias e melodias e da completa desafinação dos "cantores". Ao discutir sobre esse assunto, com certeza usariam termos xulos como "aquela merda", "aquilo é um lixo", "gente ignorante". Não é? Pois bem, agora imaginemos a visão da galera que curte o funk, que vai aos bailes todo domingo e dançar até cair. O que eles achariam de musica erudita: Verdi, Bach, Mozart, Beethoven. Iam achar um saco aquelas musicas todas bonitinhas, cheia de sonzinhos, "cheios de frufru" e provavelmente iriam usar seus proprios termos xulos pra representar isso; não é?

Aonde entra aí a individualidade e o respeita a mesma? É simples. Existem coisas e existem pessoas. Música é uma coisa e como tal é mais facil de ser analisada pela ciência do que pessoas. Música é ciência, é matemática, é teoria, prática, execução e interpretação. Mas também é arte, e como tal, tem valor subjetivo, ou seja, cada um a absorve de um jeito. Mas pelo fato de ser arte, isso não quer dizer que não caibam comparações. Não dá pra dizer que Mozart e MC Marcinho tinham a mesma mente musical. Mozart estava anos luz na frente com apenas 6 anos de idade, compondo sonatas. Isso é o nivel de consciência que falei antes. Existem musicas com orquestras inteiras, 16 vozes; e existem musicas feitas em um tecladinho na garagem de um apartamento fedorento. Não é melhor nem pior, mas Mozart é claramente anos luz na frente em matéria de sofisticação, qualidade, harmonia, melodia, percepção e tudo o que se pode usar para "qualificar" música.

A individualidade está em respeitar quem houve funk e respeitar quem houve Mozart, pelo simples fato de serem pessoas absolutamente diferentes, provavelmente com origens totalmente distintas. Quer achar funk um lixo? Vá em frente. Agora ser preconceituoso com quem gosta de funk não é permitido em NA, isso é um insulto ao individualismo. Se ele gosta, tem os motivos dele, na criação, na educação, no ambiente, etc. Se uma pessoa teve a possibilidade de se tornar erudita em música, não é total mérito da mesma, tudo também tem a ver com a origem e a criação.

O respeito a individualidade deve preceder tudo. Até mesmo em coisas absurdas como terrorismo. O terrorismo é uma coisa e deve ser combatido. Mas terroristas, são pessoas e devem ser respeitados e compreendidos como indivíduos por mais maluco que isso possa parecer. Há de se entender por que eles fazem o que fazem e não apenas interrogá-los para chegar ao lider e cortar a cabeça dele.

Acho que falei demais pra demonstrar o que queria, mas se funcionou, então tá valendo! Hehehe