terça-feira, setembro 08, 2009

F.A.Q - Vegetarianismo - Parte 2

Resolvi escrever esse novo FAQ pois desde que fiz o primeiro FAQ (aqui), algumas coisas mudaram na minha vida alimentar, mas as perguntas continuam sendo sempre as mesmas, vindo de todas as direções. Então vou colocar algumas novas perguntas e aprofundar algumas outras.

1) Você ainda é vegetariano?
R: Não. Pura e simplesmente, não.

2) O que você come?
R: Agora como peixes e frutos do mar, além de tudo o que já comia: leite, ovos, queijo, cereais, legumes, verduras, etc. Continuo não comendo carne bovina, suina, equina, aves, répteis, etc.

3) Então o que você é?
R: Não tem um nome para o que eu sou, não me encaixo em nenhum 'ismo'. Sou apenas uma pessoa, como muitas outras, que não incluem na dieta o consumo de carne vermelha e aves.

4) Por que?
R: Melhor você ler o primeiro FAQ antes.

5) Por que você voltou a comer peixe?
R: Voltei a comer peixe puramente pelo aspecto social da coisa. Não foi razão de saúde, não fiquei doente e nunca tive deficiência proteica. Eu não senti falta de "comer algum bicho morto" e nem sonhei com bobó de camarão e acordei com um desejo desesperador. Simplesmente, chegamos a conclusão, eu e Silvinha, de que estava ficando realmente muito difícil ser vegetariano em um mundo carnívoro e que estava se tornando um sacrifício que até certo ponto estava atrapalhando nossas interações sociais - com amigos, colegas de trabalho e familiares.

Por incrível que pareça, a parte mais complicada de ser vegetariano não são as restrições alimentares per se. Carne é muito bom e não só bom, é fácil. Quer coisa mais fácil que um churrasco? Carne, fogo e sal. Não existe nada assim na cozinha vegetariana. A carne, além do sabor tem mais esse atrativo que as pessoas nem se dão conta: salame, presunto, salsicha, bifes congelados, carne moída, etc. Tudo isso são alimentos deliciosos e que trazem em si uma praticidade ímpar na cozinha. Mas mesmo passar pelo perrengue de perder todas essas praticidades ainda não foi decisivo na minha decisão de voltar a comer peixe, até por que, convenhamos, de todas as carnes, peixe é disparada a mais chata, a que dá mais trabalho, então, nesse quesito não ganhei muito. A coisa com a qual é difícil de lidar é o preconceito das pessoas, os papos recorrentes e inúteis, os quesionamentos desagradáveis, os eventos sociais nos quais você ou deixa de ir ou morre de fome, a falta de opção em restaurantes - especialmente em viagens -, e tudo o mais que apenas uma sociedade profundamente carnívora pode fornecer.

No início eu era mais radical, me recusava a ir a churrascarias, deixava de ir a certos eventos como aniversários ou jantares, se tais eventos fossem ocorrer em lugares tipicamente carnívoros (Outbacks e afins). Mesmo quando você "abre a guarda" e passa a ir, ainda é bastante desagradável. É muito ruim ser o único na mesa a comer uma salada ou uma massa (ou pior, pegar algum prato do cardápio e pedir para alterá-lo, removendo as carnes e tornando-o insípido e quase sem sentido) enquanto todos se entopem de costela e filet mignon. Você vira o centro das atenções e aquelas perguntas chatas se repetem. A maioria das pessoas entende, algumas até admiram, e o papo corre bem, mas sempre (eu repito, SEMPRE!) tem um pentelho que não satisfeito com suas respostas, vai lhe questionar sobre seus motivos, sua filosofia, suas atitudes e valores - "ué, ovo pode?"- de maneira pouco amigável, não exatamente interessado em entender melhor o vegetarianismo e mais interessado em se sair como crítico de uma coisa pouco inteligente ou "frescura". É dose.

Comendo peixe, tudo se resolve. Será? No aspecto alimentar, as coisas melhoram muito. A variedade de pratos que lhe são "permitidos" aumenta monstruosamente. Isso também impacta a parte social, já que agora você pode ir a praticamente qualquer restaurante sem medo de que não vai ter nada para você comer. Em algumas situações, no entanto, as coisas ainda são colocadas no holofote - exemplo clássico e bastante frequente: churrasco. "Vai uma linguiçinha?". Não, obrigado. "Opa, saiu uma picanha mal passada, vai?". Não, valeu. "Pô, você não come nada, tá de dieta, hehehe?". Eu não como carne. "Sério? O que você tá fazendo aqui então? hehehe" - e começa tudo de novo.

6) De acordo com sua "nova filosofia", é tranquilo comer peixe?
R: Não estou, de maneira alguma, feliz com o fato de que como peixe. Gostaria de poder voltar ao ovo-lacto-vegetarianismo, mas é complicado. Pressões externas são mais fortes que eu. Peixe é a decisão óbvia quando se cogita "dobrar as regras" e passar a comer "alguma carne" para facilitar algumas coisas. Sou e continuo sendo plenamente consciente de que o consume de peixe mundo afora apresenta sérios problemas ambientais e que eu gostaria de não fazer parte da estatística.

7) Então, por que não aproveita e come frango também?
R: Por que não tenho a menor vontade, nem necessidade.

8) Pensa em voltar algum dia a comer frango ou carne?
R: Não, nem cogito essa possibilidade. Mas a vida dá muitas voltas, as palavras nunca e sempre são geralmente ditas em momentos passionais (não que esse seja) e com bastante frequência são transformadas em "sempre até" ou "nunca até".

9) E o vegetarianismo, onde fica?
R: Em algum lugar no meu futuro. Respeito, admiro, defendo. Só não tenho capacidade, no momento, de vivê-lo.

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