sexta-feira, março 11, 2005

- Mestre, o que é modéstia?
- Não sei, mas posso lhe fornecer o senso comum a respeito dessa virtude.
- Como assim?
- Não sou modesto, não posso oferecer conceitos sobre algo complexo como uma virtude sem possuí-la.
- Você não é modesto?
- Não.
- Como sabes?
- Eu sou seu mestre, sou sábio, sou inteligente e iluminado, frequentemente lhe dou ordens e sou rude com você quando me pede explicações, não é?
- Sim, é verdade. Mas um vício como esses, a vaidade, não seria um impeditivo no caminho da libertação? Eu sou modesto?
- Uma pergunta de cada vez, caro discípulo. Sim, creio que você é modesto, mas não posso lhe assegurar, afinal você é um discípulo e pode estar apenas interpretando o papel de alguém submisso a ordens de um superior, vamos ver o que acontece quando você se tornar um mestre.
- E a primeira pergunta?
- Você acha que se Deus dissesse "eu sou bom" ou "eu sou perfeito" ele deixaria de ser perfeito?
- Não.
- Agora, diga-me o que entendeu a respeito da sabedoria, depois de tudo que lhe ensinei.
- Sim mestre. A sabedoria é o discernimento entre certo e errado. É antes de acumular conhecimento, aplicar o que se conhece para o bem. É reconhecer a importância do que não se sabe e a real necessidade de sabê-lo. É conhecer a si mesmo, com todos os defeitos e qualidades, tanto aqueles que podemos e os que não podemos mudar; é saber reconhecer a diferença entre eles.
- Muito bem querido discípulo, falou como um verdadeiro mestre. Agora diga-me, você é modesto?
- Acredito que sim. Não lembro da última vez que me auto-congratulei e não acredito que deixo de fazê-lo de maneira consciente.
- Você é iluminado?
- Com certeza não, minha mente oscila com problemas corriqueiros da vida e ainda não aprendi a controlar a ansiedade.
- Você acredita que eu sou iluminado?
- Sim, você é meu querido mestre, dotado de grande sabedoria.
- E no entanto você concorda que não sou modesto.
- Sim.
- Pode me dizer por que?
- És sábio, logo sabe reconhecer um vício que não podes mudar. Sabes que não deve perder seu tempo em tentativas inúteis. E sabe que por não possuir tal virtude não pode discorrer a respeito da mesma, apenas repetir velhos conceitos que o senso comum possui a respeito de uma mera palavra.
- Muito bem. Se tornarás um mestre sábio e modesto. Mas o somatório das virtudes não libertam o homem nem trazem a iluminação, e sim a maneira como ele lida com os defeitos, aceitando, controlando ou tornando-se livre deles. Aceite a si mesmo com sabedoria e serás liberto.
- Obrigado mestre.